Não se sabe ao certo quando realmente a história do Design de Interiores iniciou. Sabe-se somente que essa é uma arte tão antiga quanto a Arquitetura e que remonta aos tempos mais antigos, em que já era notável a preocupação com a organização dos espaços internos. A decoração de interiores, os móveis e os acessórios fizeram-se notáveis nas civilizações em todo o mundo, desde os tempos mais antigos até os nossos dias.
O crédito para o nascimento do design de interiores é frequentemente atribuído aos antigos egípcios, que decoravam suas humildes cabanas com mobiliário simples, tais como cadeiras e mesas reforçadas por peles de animais ou tecidos. Já havia a presença de pinturas, murais, esculturas e vasos decorativos.
Um estilo rudimentar decorativo que contrastava com os ricos ornamentos de ouro, belíssimas relíquias encontradas em sarcófagos como o do rei Tutankhamon. Toda a riqueza e luxo desses ornamentos demonstravam ostentação, domínio e poder das camadas mais elevadas do antigo Império Egípcio.
Séculos mais tarde, a civilização Grega fundamentou toda a sua expressão sobre a arte egípcia da decoração de interiores, e houve um notável aprimoramento nessa área. Os móveis outrora rústicos e feitos ao acaso passaram a ocupar grande parte da preocupação de seus feitores: sua elaboração passou a ser feita com mais esmero, e alguns móveis mais finos já traziam detalhes em metais nobres, tais como o marfim e a prata.
Os romanos deram um passo a mais no desenvolvimento do design de interiores, pois foram os pioneiros em se preocupar com o conforto dos espaços. Pela primeira vez, deu-se grande ênfase na combinação da estética com o conforto dos ambientes.
Com o tempo, a decoração dos espaços internos tornou-se imprescindível, sinônimo de riqueza e status social. Pode-se dizer que o mobiliário romano foi inovador, pois o móvel começa a ser percebido não apenas como um utilitário, mas como adereço ornamental. Eram feitos de pedra, madeira ou bronze.
Após esse período de esplendor e riqueza ornamental, houve um movimento brusco com a austeridade provocada por guerras constantes na Europa Medieval e a ascensão da Igreja. A "Idade das Trevas" foi um tempo de retaliação e estagnação da expressão, e isso se refletiu diretamente no mundo das Artes, da Música, das Letras, da Arquitetura e, consequentemente, do Design de Interiores. As casas, outrora tão ricamente ornamentadas, agora traziam painéis de madeira sombrios, mobília mínima e nada mais que pudesse ostentar algum tipo de capricho ou requinte. Os ditames impostos sobre essa mobília inexpressiva atingiu até mesmo as classes mais elevadas da época, que se limitou a utilizar pouco ou nenhum toque decorativo. Os tecidos floridos, as tapeçarias, a estamparia dos papéis de parede e demais pinturas - tão comuns no estilo decorativo greco-romano, praticamente desapareceram, e só havia cores suaves e tecidos simples à disposição.
Apenas no século XII, com o fim da Idade das Trevas, é que a Europa voltou a introduzir cores e ornamentação em suas casas com a chegada do Estilo Gótico. Esse estilo foi criativo e inovador, ao trazer o uso da captação da luz natural por feixes, “rasgos” na alvenaria, abóbadas vitrificadas e pátios abertos.
Nos séculos 15 e 16, o Renascimento propôs um foco renovado sobre o design de interiores. Houve uma otimização e notáveis avanços nessa área, em que arquitetos criaram espaços com elaborados elementos decorativos. Pisos e painéis em mármore, recortes, paginação complexas de piso, nichos de madeira embutidos, pinturas perspectivadas e móveis sofisticados confeccionados dos melhores materiais podiam ser encontrados nos palácios reais, vilas e capelas da Europa.
Esse estilo decorativo das Vilas Italianas prolongou-se ainda após o Renascimento, e as contribuições do estilo italiano barroco logo se tornou popular em toda a Europa. O Barroco utilizou-se generosamente do mármore colorido, vitrais, tetos e cúpulas pintados e colunas retorcidas. No século 18 houve o favorecimento do estilo Rococó, demonstrando particular apreço para as porcelanas asiáticas, desenhos florais, móveis confeccionados em materiais elegantes, como madrepérola e casca de tartaruga. Até o final do século 18, o estilo Neoclássico predominava, ou seja, um desdobramento do desenho clássico da antiga Roma, fazendo uso generoso do bronze, seda, veludo e cetim. Assim, o Design de Interiores volta a ganhar toda a monumentalidade e riqueza ornamental como nos períodos iniciais de sua história.
O estilo Neoclássico predominou até o início dos anos 1800, quando na Europa e América uma nova tendência surgiu, trazendo mais liberdade e ecletismo ao design de interiores. O Estilo Vitoriano (1835 – 1903) marcou uma era muito importante para a cultura europeia. A Rainha Vitória da Grã Bretanha presenciou em seu reinado o apogeu das artes, das ciências e da tecnologia, quebrando definitivamente o elo entre as tradições do passado e as inovações da modernidade. O estilo vitoriano influenciou diretamente os objetos, móveis, roupas, tecidos, grafismo, artes, arquitetura, paisagismo e design de interiores. Sua influência chegou a muitos outros continentes e durou mais de um século.
John Ruskin, A.W. Pugin e o renomado arquiteto e designer William Morris foram os precursores do design vitoriano, proclamando a importância da relação entre arquitetura e design que existia na cultura clássica greco-romana e medieval. Este saudosismo de tempos passados era parte da cultura romântica pertinentes ao período vitoriano, período esse cheio de contrastes com o período posterior a ele: o período da Revolução Industrial. A sociedade industrial orgulhava-se do progresso material trazido pela revolução, pois se acreditava que assim estariam anuladas as preocupações espirituais, considerada uma ameaça ao tecido social da época.
Esses mesmos pensadores (Ruskin, Pugin e William Morris) não concebiam os novos ideais impostos pela Era Industrial, que exaltavam a beleza da produção em larga escala e das máquinas. Para eles, a arte deveria ser uma imitação da natureza, e, além disso, deveria ser um “retorno à vida em contato com a natureza”, pois essa era a única saída para a alienação das metrópoles, da fria e artificiosa beleza do ferro, da produção industrial em série e da miséria causada pela exploração e pelo trabalho mecanizado das fábricas.
Por mais que a Era Industrial incentivasse a racionalização do design e a produção em massa, o gosto vitoriano ainda crescia no coração da burguesia britânica do século XIX. Na arquitetura, na decoração, no paisagismo, nas artes gráficas e nos objetos predominavam as formas orgânicas estilizadas de linhas marcadas e os arabescos com decoração austera e volumes geométricos.
Essas ideias iniciaram o movimento conhecido como Arts and Crafts (Artes e Ofícios), no qual 1861 os arquitetos William Morris, Philiph Webb e outros associados estabeleceram um grande estúdio de design. Eles sustentavam o propósito de restabelecer os laços entre o trabalho belo e o trabalhador, e voltar à honestidade do design que a produção em massa negava. O estúdio de Morris e Webb ficou conhecido pela ideia da casa como uma obra de arte total, com todos os objetos desenhados pelos arquitetos e realizados por artesãos experientes, usando métodos tradicionais e inspirados na natureza.
A missão social do movimento Arts and Crafts era:
• Dar solução aos males da Revolução Industrial;
• Melhorar a qualidade de vida dos trabalhadores;
• Levar a cultura a todos;
• Restabelecer a união das artes e os ofícios perdidos desde o Renascimento.
O movimento Arts and Crafts teve adesão não apenas da monarquia vitoriana, mas também fez grande sucesso entre as classes mais elevadas. Infelizmente, o sonho de oferecer peças de design único a todos não era financeiramente viável, já que apenas os mais abastados poderiam ter esse luxo. Ainda assim, o gosto pelos objetos Arts and Crafts cresceu e se estendeu na Alemanha e Estados Unidos, onde se publicaram revistas especialistas no assunto, atingindo um grande público feminino.
As ideias do movimento Arts and Crafts, os ventos românticos e a veloz modernização da Europa no final do século XIX inspiraram na França um movimento ainda maior e mais abrangente. O movimento do Art Nouveau (1890 – 1918) iniciou-se na França e se expandiu por toda a Europa convertendo-se em um estilo internacional.
Esse movimento está estreitamente ligado às correntes artísticas de fim de século que promoveram a imaginação, a expressão e o simbolismo na arte, mas também à produção industrial em série e ao uso de materiais modernos como o ferro, vidro e cimento. Diferente do movimento Arts and Crafts, o movimento Art Nouveau estabeleceu uma articulação estreita entre arte e indústria, resultando em uma alta qualidade estética dos objetos.
As linhas curvas, os arabescos, as formas orgânicas e geométricas e os motivos florais que caracterizaram o estilo do movimento Arts and Crafts se fizeram mais atrevidas e sensuais no Art Nouveau. Arquitetura, móveis, objetos, joias, roupa, máquinas, móveis urbanos, tudo se vestiu de linhas onduladas. Era uma geração que aceitava a máquina, mas a vestia de adornos floridos para naturalizá-la.
Todas essas características influenciaram diretamente a maneira de se planejar os ambientes internos: estampas florais e sinuosas poderiam ser vistas em cortinas, estofados e papéis de parede. A originalidade oriunda da sinuosidade das composições orgânicas marcou presença no desenho dos móveis e objetos decorativos. Grandes nomes destacaram-se no movimento Art Noveau, tais como o arquiteto espanhol Gaudi, o artista francês Henry Tolouse Lautrec e o designer gráfico e artista inglês Aubrey Beardslay, dentre outros.
Assim como o estilo Vitoriano, o Art Nouveau foi um sucesso exclusivo para os nobres e ao consumo da burguesia ascendente. Apenas na virada do século XX, com a iminência da Primeira Guerra Mundial, foi que esse movimento diminuiu a sua força. Após a guerra, o Art Noveau centrou-se nos Estados Unidos, e na década de 20 derivou no estilo decorativo chamado Art Deco.
No Brasil, o estilo Art Nouveau, e posteriormente o estilo Moderno, chegou ao país no começo do século XX com muitas novidades. O design Moderno culminou até o início da década de 30 por meio da Bauhaus, a instituição de design mais importante do século XX. Essa escola foi responsável por um enorme desenvolvimento do movimento moderno por meio de melhores métodos de produção e de materiais de melhor qualidade, como o metal tubular, o uso do aço e do vidro. A eficiência funcional da Bauhaus tornou-se sinônimo de modernismo.
Por volta de 1927, emergiu um Estilo Internacional do modernismo que se distinguia pelo Essencialismo (ou “Minimalismo”), baseado no conceito moderno de se obter o máximo pelo mínimo. Ligado ao design ambiental tentava encontrar soluções inovadoras de design, usando o mínimo possível de energia e materiais.
As indústrias estavam em busca de uma estética muito peculiar ao Modernismo, em que sua representação orgânica projetou-se desde a arquitetura até o desenho de livros. Desde o mobiliário até o design sofisticado das joias, dos objetos de uso cotidiano às esculturas decorativas. Isso proporcionou uma resposta plástica coerente à exata necessidade de popularização do design.
Séculos mais tarde, somos testemunhas em nossos dias da total popularização do design. As inovações tecnológicas possibilitaram o barateamento do custo de materiais e a automatização da produção moveleira, reduzindo diretamente o custo final para a classe consumista. Lojas populares investem na qualidade de seus produtos, e hoje já é possível se adquirir peças nobres e até mobiliário planejado com valores acessíveis, e formas inúmeras de aquisição.
Conforme podemos ver, ao longo dos séculos e até os nossos dias uma série de inovadores estilos surgiram e se foram, provando que o Design não está reservado somente para casas ou pessoas nobres: pode-se dizer que hoje o design de interiores atingiu as massas, e está cada vez mais acessível a todos.
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